A vida se estende por um longo
período – setenta, cem anos. A morte é intensa, porque ela não se estende; ela
se concentra num único instante. A vida tem de se prolongar por setenta, cem
anos, ela não pode ser tão intensa. A morte vem de uma vez só; vem inteira, não
vem em partes. Ela será tão intensa que nada que você conhece a superará em
intensidade. Mas, se ficar com medo, se antes da morte chegar você fugir, se
ficar inconsciente por causa do medo, você perderá uma oportunidade de ouro, o
portal dourado. Se durante toda sua vida você aceitar as coisas, quando a morte
vier, com paciência e passividade, você a aceitará também e irá ao encontro
dela sem fazer nenhum esforço para fugir. Se você conseguir aceitar a morte
passivamente, em silêncio, sem esforço, ela desaparece.
Nos Upanishades conta-se uma história antiga
de que eu sempre gostei muito. Um grande rei chamado Yayati fez cem anos. Já
era o suficiente; ele já vivera demais. Tinha aproveitado tudo que a vida lhe
dera. Fora uma dos maiores reis de seu tempo. Mas a história é belíssima...
A morte
chegou e disse a Yayati, “Prepare-se. Chegou a sua hora e eu vim buscá-lo”.
Diante da morte, Yayate, que fora um grande guerreiro e vencera muitas guerras,
começou a tremer e disse, “Mas é cedo demais!” A morte então disse, “Cedo
demais!? Você viveu cem anos! Até os seus filhos já estão velhos. O seu
primogênito tem oitenta anos. O que mais você quer?”
Yayate
tinha cem filhos, pois tivera cem esposas. Ele perguntou à morte, “Você pode me
fazer um favor? Eu sei que você tem de levar alguém. Se eu conseguir convencer
um dos meus filhos, você pode me deixar aqui por mais cem anos e levá-lo no meu
lugar?” A morte respondeu, “Para min não há problema algum se houver alguém
preparado para ir. Mas eu não acho que haverá... Se você não está preparado,
você que é o pai, já vivei mais e aproveitou tudo o que tinha para aproveitar,
por que o seu filho estaria preparado?”.
Yayate
chamou os seus cem filhos. Os mais velhos permaneceram calados. Fez-se um
grande silêncio, ninguém dizia nada. Só um filho, o mais novo, com dezesseis
anos apenas, levantou-se e disse, “Eu estou preparado”. Até a morte lamentou
pelo menino e lhe disse, “Talvez você seja inocente demais. Não vê que os seus
noventa e nove irmãos ficaram em absoluto silêncio? Um tem oitenta anos, o
outro tem setenta e cinco, o outro tem setenta e oito, o outro tem setenta –
eles já viveram, mas querem viver mais. E você ainda nem viveu. Até mesmo eu me
entristeço por levar você. Pense melhor”.
O rapaz
respondeu, “Não, só de ver a situação já tenho certeza. Não se entristeça nem
lamente; eu vou com absoluta consciência. Posso ver que, se o meu pai não se
satisfez em cem anos, que sentindo faz permanecer aqui? Como eu posso me sentir
satisfeito? Estou vendo os meus noventa e nove irmãos; ninguém está satisfeito.
Então para que perder tempo? Pelo menos eu posso fazer este favor a meu pai. Na
sua idade avançada, deixe-o aproveitar mais cem anos. Mas para min acabou.
Diante dessa situação em que ninguém esta satisfeito, uma coisa ficou bem clara
para mim: mesmo que eu viva cem anos, também não ficarei satisfeito. Portanto,
que diferença faz partir hoje ou daqui a noventa anos? Pode me levar”.
A morte
levou o rapaz. Depois de cem anos ela voltou e Yayate teve a mesma atitude. Ele
disse, “Esses cem anos passaram tão rápido! Todos os meus filhos morreram, mas
eu tenho outros. Posso lhe dar um deles. Só tenha misericórdia de min”.
E essa
situação continuou, conta a história, durante mil anos. Dez vezes a morte veio
e nove vezes ela levou um dos filhos, deixando que Yayate vivesse mais cem
anos. Na décima vez, Yayate disse, “Embora eu esteja tão insatisfeito quanto
estava quando você veio pela primeira vez, agora, embora de má vontade,
relutante, eu irei, pois não posso continuar a lhe pedir favores. Já chega Uma
coisa ficou clara para mim: se mil anos não me trouxeram contentamento, mais
mil anos também não trarão”.
Isso é
apego. Você pode continuar vivendo, mas como a ideia da morte é chocante, você
ficará apreensivo. Mas, se você não estiver apegado a nada, a morte pode vir neste
exato momento e você a receberá de bom grado. Estará absolutamente preparado
para partir. Diante de uma pessoa assim, a morte é derrotada. Ela só é
derrotada por aqueles que estão prontos para morrer a qualquer momento, sem
nenhuma relutância.
São esses
que se tornam imortais, que se tornam budas.
Essa liberdade é o objetivo de toda sua busca religiosa.
Libertar-se do apego é libertar-se da morte.
Libertar-se do apego é libertar-se da roda de nascimento e morte.
Libertar-se do apego torna você capaz de seguir para a luz universal e de se fundir a ela. E essa é a maior de todas as bênçãos, o êxtase absoluto, além do que nada mais existe.
Essa liberdade é o objetivo de toda sua busca religiosa.
Libertar-se do apego é libertar-se da morte.
Libertar-se do apego é libertar-se da roda de nascimento e morte.
Libertar-se do apego torna você capaz de seguir para a luz universal e de se fundir a ela. E essa é a maior de todas as bênçãos, o êxtase absoluto, além do que nada mais existe.

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